O legado do cinema deixado por Paschoal Segreto
- UFUPIC
- 7 de nov. de 2018
- 3 min de leitura
07/11/2018 | 21:52
Por - Anna Júlia Lopes

Na cidade de San Martin di Cileno província italiana de Salerno, no dia 22 de março de 1868, nascia Paschoal Segreto, o pioneiro da cinematografia brasileira. Aos seus 15 anos, em 1883, o italiano chegava ao Brasil. Começou como um vendedor de jornais, mas apesar das dificuldades financeiras pelas quais sua família passava, Paschoal era um visionário. Ele e seu irmão, Gaetano Segreto, tinham uma facilidade para os negócios. Graças à sua criatividade, os irmãos Segreto fizeram negócios na área do entretenimento, como cabarés, teatros, cafés, casas de jogos e até a primeira sala de cinema no país. Tudo isso rendeu a Paschoal o título de “Ministro das diversões” pela imprensa.
Morando no Rio de Janeiro, Paschoal se envolveu com um apreciador do jogo do bicho, José Roberto Cunha Salles, e ambos registravam criações de outros países como sendo deles. E juntos, no dia 31 de julho de 1897, formaram a sociedade Segreto & Salles, inaugurando o Salão de Novidades de Paris no Rio, a primeira sala de cinema a exibir uma programação audiovisual contínua. O sucesso e repercussão foram estrondosos, tanto que com o objetivo de obter uma nova visão e atender a procura do público por novos filmes, um dos irmãos de Paschoal, Afonso Segreto, juntamente com outros emissários, partiram ao exterior. Afonso aprendeu a usar equipamentos específicos do cinema e trouxe uma câmera de filmar, realizando o primeiro filme feito em terras nacionais: uma vista da baía de Guanabara. Porém, a parceria de Segreto e Salles fora desfeita naquele mesmo ano.

Os efeitos do cinema foram tão grandes que até mesmo o até então presidente da república, Prudente de Moraes, compareceu com a sua família para assistir uma das exibições, no dia 17 de junho de 1898. Paschoal manteve a sala e tornou-se sócio de seu irmão Gaetano, entretanto um incêndio destruiu o cinema e os equipamentos que ali se encontravam. Mas o prédio se encontrava seguro e logo foi aberto novamente, no dia 5 de janeiro de 1899. Fora o salão de cinema, Segreto investiu também em boliche, teatro, patinação no gelo, casas de jogos e espetáculos, porém o cinema se mantinha como atração principal, o que fazia com que as casas de sua empresa tivessem um diferencial, que as destacava do resto.
E apesar da maior dificuldade da produção cinematográfica no Brasil, devido à falta de energia elétrica – problema este que só foi resolvido em 1907 -, Paschoal Segreto lançou a primeira revista especializada em cinema do Brasil, “Animatographo”, e também exibiu as primeiras fitas nacionais. E em 1900, os irmãos Segreto montaram um estúdio de produção de filmagens, e os acontecimentos recentes eram projetados alguns dias depois no “Salão Paris no Rio”.

Com o surgimento da concorrência, Paschoal deixou de apenas retratar fatos como paradas militares, incêndios e manifestações, para também realizar filmes considerados “alegres”, inaugurando o Pavilhão Internacional, no Rio de Janeiro, que tinha como uma de suas atrações artistas internacionais. Até 1907, a empresa dos Segreto era a única no ramo cinematográfico, e apesar do pioneirismo e do esforço de Paschoal para criar um cinema nacional forte, o aparecimento da Companhia Cinematográfica Brasileira do empresário espanhol Francisco Serrador Carbonell fez com que o italiano se mantivesse apenas com o posto de pequeno exibidor da sétima arte, pois dominou o mercado audiovisual paulista e em seguida, o carioca.
Apesar de não ter se sustentado na carreira de cinematógrafo até a sua morte, é inegável a contribuição de Paschoal Segreto para a cultura nacional. O italiano foi produtor de mais de 80 filmes, sendo em sua maioria documentários, e foi precursor também do teatro de revista, com seu característico apelo sensual e ironia sobre a sociedade e a política, sendo chamado até mesmo de “Papa do teatro brasileiro” pelo dramaturgo carioca Procópio Ferreira.

Paschoal Segreto faleceu no dia 27 de fevereiro de 1920, com 51 anos, por um agravamento de uma gangrena provinda da diabetes. Não teve filhos, porém deixou um legado na produção cinematográfica nacional. Foi sepultado no Cemitério São João Batista, na capital do estado do Rio de Janeiro.
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