top of page
logo FOR REAL 2.png

Entre sangue, tripas e “bagaceira”: um do maiores nomes do cinema independente de terror brasileiro

  • Foto do escritor: UFUPIC
    UFUPIC
  • 30 de out. de 2018
  • 5 min de leitura

30/10/2018 | 21:00

Por - Lorena Roje

ree
(Cena do filme "Zombio", lançado em 1999 e dirigido por Petter Baiestorf)


Petter Baiestorf é um cineasta, roteirista e ator brasileiro. Ele é expoente do gore nacional com influências diretas de diretores como John Waters, George Kuchar e José Mojica Marins. Na década de 90, com colaboração de Coffin Souza e do Grupo Canibal, criou a estética do Kanibar Sinema (filmes filmados em qualquer formato com orçamento Zero). Baiestorf faz filmes desde 1992, quando fundou a Canibal Filmes (antiga Canibal Produções) com a ideia de editar seus próprios fanzines e fazer filmes de longa-metragem, usando qualquer suporte para o registro das imagens.

1. Qual sua primeira lembrança de contato com o cinema? Minha primeira lembrança é de ter assistido O Incrível Homem que Derreteu na TV. Não foi o primeiro filme que vi, lógico, mas foi o primeiro que me marcou de uma maneira positiva, no intuito de querer aprender mais como eram executado os efeitos de um filme. Não me tornei maquiador, mas acredito que tenha sido o ponto de partida para que eu quisesse aprender tudo sobre a feitura de um filme. Devia ter uns 7 ou 8 anos.

2. Com seu 1º filme em 1993, você já está na área audiovisual a mais de 20 anos. Como foi sua história com o cinema e sua decisão de começar a produzir filmes? Quando eu tinha uns 12 anos de idade tive uma discussão com meu pai sobre que profissão seguiria no futuro. Meu pai queria que eu fosse advogado, ou uma dessas coisas. Lembro que encerramos a discussão comigo gritando que antes dos 18 anos faria um filme. Claro que não tinha a mínima noção de como iria fazer um filme, mas acabei fazendo um treco pavoroso chamado Lixo Cerebral Vindo de Outro Espaço com amigos do colégio e se tornou o pontapé inicial para a produção de mais filmes. Tinha 17 anos na época. Meu primeiro longa foi produzido em VHS, sem nada de orçamento, mas muita vontade de fazer. 1993 foi um dos piores anos para a produção cinematográfica brasileira, se não me falha a memória foram produzidos apenas 9 filmes naquele ano. Talvez tenha sido muito bom, e importante, ter me iniciado nessa arte numa época tão conturbada, me fez entender que é possível produzir de maneira independente, sem estar preso ao mercado formal e etc.

3. Falando do início da sua carreira, conte um pouco da história do seu 1º filme: “Criaturas Hediondas”. Não é um bom filme, mas foi importante para aprendermos sobre organização nas filmagens, cronograma, como gastar o pouco dinheiro do orçamento em detalhes significantes e, principalmente, formar um grupo de “cineastas” adolescentes que estavam descobrindo na prática suas funções na produção. Filmamos em umas duas semanas com equipe bem reduzida, pouca comida e, depois, o editamos num estúdio de música cujo dono possuía uma ilha de edição analógica. Criaturas Hediondas era uma sci-fi com toques de gore e humor nonsense inspirado em Monty Python. Na época serviu para nos colocar em evidência no cenário nacional, já que praticamente ninguém explorava o formato. Através de fanzines fomos conseguindo ficar conhecidos e fomos fechando algumas mostras importantes pelo país, como a HorrorCon em São Paulo, onde a continuação, Criaturas Hediondas 2, de 1994, foi alçada a condição de cult movie. 4. Como foi sua jornada de cineasta e produtor independente sem verba das leis de incentivo brasileiras? Nos anos de 1990 funcionou muito bem. Em 1996 fechei sociedade com o cineasta Cesar Souza, de Porto Alegre, RS, e fomos produzindo filmes que se pagavam. Muitos se tornaram cults dentro do circuito independente, como O Monstro legume do Espaço (1995), Eles Comem Sua Carne (1996), Blerghhh!!! (1996), Gore Gore Gays (1998) e Zombio (1999). Estes filmes custavam muito pouco e, naquela época pré-internet, vendiam muitas cópias em VHS quando lançados. Isso possibilitava o investimento em novas produções. Nos anos 2000 as vendas caíram, mas mesmo assim conseguimos fazer uns filmes que se destacaram e venderam bem, como Arrombada – Vou Mijar na Porra do seu Túmulo!!! (2007), Vadias do Sexo Sangrento (2008) e Ninguém deve Morrer (2009). Após as coisas começaram a ficar meio estranhas para continuarmos produzindo naquela fórmula. Zombio 2: Chimarrão Zombies (2013) custou uns 50 mil reais, dinheiro levantado de forma independente, mas não deu lucro, empatou. Depois dele não consegui produzir mais nenhum longa, me concentrando em filmes em episódios como As Fábulas Negras (2014), que co-dirigi com Zé do Caixão, Rodrigo Aragão e Joel Caetano e 13 Histórias Estranhas (2015), com 13 diretores diferentes. Após essas produções tive uma série de problemas financeiros e só produzi o curta-metragem Ándale! (2017), que teve uma ótima repercussão em festivais de cinema político e experimental e acabou ganhando 3 prêmios de melhor curta experimental. Enfim, o cineasta independente aqui no Brasil precisa estar ligado no que está acontecendo no mercado e sociedade o tempo inteiro e estar aberto à mudanças. É preciso se manter jovem o tempo inteiro.


5. Desde o começo das suas produções, você conseguiu trabalhar integralmente com cinema e obter uma boa rentabilidade? Não, somente após o lançamento do O Monstro Legume do Espaço (1995), mas sempre mantive outros empregos ao mesmo tempo para engordar os orçamentos dos novos filmes. Teve alguns anos, como em 1996, que produzimos 4 longas, todos bem lucrativos. Em 1997 abri a Caos Filmes – em paralelo à Canibal Filmes – com o Carli Bortolanza e bancamos uma série de longas e média-metragens experimentais que foram, todos, fracassos financeiros. Em 1998, Cesar Souza e eu resolvemos radicalizar as produções, então lançamos dois longas, Gore Gore Gays e Sacanagens Bestiais dos Arcanjos Fálicos, que foram produções que não deram retorno. Apesar de independente e de depender das vendas para a sobrevivência das produções, sempre arrisquei e quis experimentar narrativas novas, independente de ter ou não retorno financeiro.


6. Seus filmes transgridem o estilo padrão do cinema nacional, com uma temática gore e trash. Como surgiu a ideia de produzir dentro dessa estética? Pra mim foi o caminho normal, eu já escrevia contos nessa estética do horror exagerado desde pirralho. Meus primeiros trabalhos com visibilidade são contos e datam de 1986, 1988. Quando me tornei editor de fanzines, antes de fazer filmes, criei muitos roteiros de HQs, também sempre nessa temática, então sempre foi muito natural que eu explorasse essa linha estética. Tenho influências do gore mundial, do surrealismo e de textos anarquistas (por isso a pegada política nas obras), e essa coisa de misturar essas referências improváveis acabou que criou um estilo bastante único dentro do universo cinematográfico brasileiro.



7. Como funciona a produção dos seus filmes (roteiro, cenário, equipe, material)? Roteiro, produção e direção geralmente eu mesmo faço, são funções que não vejo, na qualidade de cineasta autoral, como desconectá-las. As outras funções chamo amigos e técnicos do cinema independente brasileiro que tenham afinidades ideológicas comigo. Para a produção de Zombio 2 (2013) criei um sistema de anarco-cooperativismo onde reunimos 9 produtoras brasileiras e 72 técnicos/atores/figurantes de 8 diferentes estados brasileiros. É um formato de produção bastante livre e orgânico, em constante evolução, para se adaptar à qualquer empecilho que surja nas produções e tornar estes problemas que surgem em pontos positivos ao que estivermos fazendo na ocasião. Fórmulas existem para serem transgredidas, regras para serem quebradas.

8. O que você diria para incentivar quem quer começar a produzir filmes independentes no Brasil? Façam!!! Vai ter uma série de obstáculos, vai faltar grana, você vai muitas vezes se sentir desvalorizado, mas vale a pena estudar e aprender a fazer produções independentes. Existe público, existe mostras e festivais sedentos por suas produções, basta manter o foco e fazer.

 
 
 

Comments


©2018 by Tela Verde-Amarela. Proudly created with Wix.com

  • facebook
  • twitter
  • youtube
bottom of page