Como está não vai ficar
- UFUPIC
- 31 de out. de 2018
- 3 min de leitura
31/10/2018 | 23:56
Por - Anna Júlia Lopes

Criado em 1993, o Cinusp Paulo Emilio, uma sala localizada na cidade universitária da USP, promoverá uma amostra de filmes sobre a ditadura: "1968: Como está não vai ficar", com registros realizados durante e depois da mesma. A amostra ocorrerá do dia 29 de outubro ao dia 2 de novembro. Somado a isso, também haverá um debate sobre o filme 68, que conta vários acontecidos do ano, como a Guerra do Vietnã e as greves trabalhistas em Paris, tudo guiado pelo pesquisador e professor de filosofia Celso Favaretto. Em entrevista, a equipe do Cinusp revela alguns detalhes e os objetivos da sessão sobre esse conturbado período político:
Com a censura e a repressão, foram produzidos filmes brasileiros na ditadura? Se sim, serviam apenas para distrair a população ou houve alguns com críticas?
"20 anos da ditadura o Brasil produziu muitos filmes, milhares. É uma das épocas com mais público e produção da história nacional. Eles vão desde filmes mais voltados para entretenimento, até obras com críticas mais óbvias e claras, com todas as nuances que podem existir. No período tivemos desde o Cinema Novo inteiro (parte dos filmes explicitamente críticos, inclusive com diretores fazendo filmes do exilio), até outros movimentos como o Udigrudi, a Boca do Lixo, as pornochanchadas e até os vários filmes dos trapalhões."
De que forma o cinema pode atuar no crescimento de movimentos anti-fascistas ao redor do mundo e no Brasil?
"'O cinema atuar' em algo acho um conceito bem complicado. O cinema não é uma coisa só e organizada. As pessoas que fazem cinema podem introduzir mais ou menos diretamente os conceitos em que acreditam em seus filmes, desde os narrativos até os documentais. Mas as redes de distribuição de filmes, por exemplo para as salas de cinema comerciais, em geral estão interessadas na parte financeira. Quem vai financiar o marketing de um filme, pagar para que as pessoas saibam que ele exista, e que portanto seja assistido? O filme que ninguém vê só existe para o realizador, o impacto que ele terá será muito pequeno. Claro, existem multiplas forma de distribuição de filmes, mas esse é um desafio que todos os realizadores, de todos os tipos de obra, tem. Como é um assunto de extrema importância no mundo hoje, filmes que tratem do assunto terão mais facilidade em ganhar notoriedade, conseguir um distribuidor, ou serem exibidos em festivais. Mas voltando à sua pergunta, os filmes conseguem introduzir qualquer conceito que seja (no caso, o apoio ao antifascismo) de diversos modos, tanto explicitamente, no conteúdo (roteiro, falas etc), quanto na própria forma cinematográfica, na montagem, na direção... Não sei te dizer o que seria um filme com "forma antifascista", mas só não podemos esquecer que filmes são interpretados por quem os assiste. Acho que um exemplo bom que posso te dar é o "Tropa de Elite", que pode ser visto por alguns como uma grande crítica à truculência da nossa polícia e por outros como um grande incentivo a ela."

O cinusp, como sala para formação de repertório, pode agir como modificador de ideologias individuais?
"Qualquer filme tem o potencial de tocar emocional e racionalmente cada espectador. Uns mais, outros menos, claro. Nossa curadoria aqui no CINUSP busca selecionar temas e obras variadas, que ajudem a tornar a universidade um ambiente rico em arte e cultura, para aqueles da comunidade de dentro e de fora dela. O objetivo não é modificar ideologias nesse ou naquele sentido, mas dar novas sensações, novas ideias, propor novas discussões ou fomentar aquelas já presentes no espectador. A curadoria, é claro, pode ser mais ou menos engajada, escolher filmes mais de entretenimento ou que estimulam e exigem maior reflexão. Aqui por ser uma sala universitária, sempre incentivamos muito filmes que coloquem o espectador para pensar, inclusive propondo sempre que possível debates após as sessões, seja com os realizadores dos filmes, professores, pesquisadores, críticos etc."
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