CineIF - O Ensino do cinema na escola
- UFUPIC
- 23 de nov. de 2018
- 6 min de leitura
23/11/2018 | 22:04
Por - Jackeline Freitas

Logo do projeto CineIF
Estamos vivendo na era digital e no tempo mais forte das doenças psicológicas, os adolescentes e, até mesmo, as crianças estão muito suscetíveis a se sentirem depressivas e ansiosas. A cultura é algo que pode ajudar no processo de recuperação mental e também pode facilitar o entendimento de determinados estudos nas escolas. Um filme pode chamar muito mais atenção de uma criança do quê uma aula teórica convencional. Os professores têm lutado muito para que a sala de aula saia do conservadorismo do ensino e é por isso que cada vez mais o audiovisual tem sido utilizado nas escolas.
Varias escolas criam suas práticas do consumo de cinema como ferramenta de ensino, no entanto, alguns locais não possuem a capacidade de produzir conteúdo para alunos. Existem muitas escolas brasileiras que são precárias ou que simplesmente não conseguem formas de apresentar o cinema para seus alunos. Pensando nisso, a escola Anardina Francisca da Costa levou seus alunos para uma viagem de 34km até a cidade vizinha onde se encontra o cinema mais próximo da escola rural. De acordo com a professora Denize Freitas, que da aula para o segundo ano do ensino fundamental, a maior parte das crianças nunca tinha tido a oportunidade de ver um filme no cinema e só conseguiram nesse ano pela escola ter fornecido o transporte e o cinema ter cobrado um pouco mais barato em um pacote para as crianças de ingresso, pipoca e refrigerante.
Emerson Simões, professor de artes do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Campus Pouso Alegre, acredita que a preparação do aluno antes da sessão de cinema é fundamental, e isso torna a forma de ensinar muito mais eficaz através de um debate mais intenso que permite duvidas e questionamentos dos alunos. Ele vê formas de avaliação muito diferentes das comuns, como o próprio debate, escrita de criticas ou uma serie de reportagens. “Se nós criamos nas nossas crianças, adolescentes e jovens o habito de assistir a cinema e analisar e questionar ele vai se tornar um adulto muito mais critico e consciente de sua função social”
No campus em que Emerson tabralha, o grupo de cinema teve seu sugimento no ano de 2013 com, a professora de física, Gabriela Berinato e, o funcinário técnico, André Soares. O objetivo era apresentar um filme para os alunos e após a apresentação profissionais de diferentes áreas analisavam o filme junto com a plateia. De acordo com Emerson, um nome forte de todos os projetos culturais, o instituto precisava de alguns projetos culturais e o que surgiu a eles foi o cinema, teatro, a dança e a música. O cinema teve uma receptividade muito grande, já que os alunos passavam o dia inteiro no campus e precisavam preencher o tempo livre entre as aulas.
“Eu conheci o projeto no primeiro ano do Ensino Médio, mas não tinha coragem de entrar e acompanhei de longe, assim que começou às inscrições no segundo ano eu entrei. Decidi entrar porque sempre me interessei no cinema mas não possuía uma base sobre e de filmes que deveria assistir e também porque não o compreendia como arte. Isso tudo, principalmente, pelo meu acesso tardio porque meus pais me privavam da maioria dos filmes, por causa de religião, na infância.” Conta Mariana Fernandes umas das alunas da rede de ensino que se formou no ano passado, mas ainda carrega os ensinamentos do projeto para sua vida.
O cinema é capaz de demonstrar diferentes pontos de vistas e abrir janelas não antes vistas ou pensadas, isso é um consenso entre dois membros antigos do grupo, Ana Clara Neves e Mariana. “Um filme é capaz de carregar pressupostos - e inevitavelmente os carrega - e é essa capacidade que permite que as pessoas se emocionem e mudem visões ou hábitos a partir da reflexão - não necessariamente profunda - gerada por um filme.” Disseram Luiz Guilherme Ferreira e Yasmin Ferreira, atuais monitores do projeto.
Um dos objetivos principais no inicio era a valorização do cinema brasileiro, um dos combinados era que ao menos a metade dos filmes do ano fossem de produção nacional. Luiz Faria, ex-monitor do projeto, menciona o grupo como uma forma de permitir que os alunos já interessados possam conhecer e estudar mais sobre o assunto. Os atuais monitores concordam: É como um trampolim para se aprofundar em algo que já gostamos.
O grupo agora tem focado na área de pesquisa e exposição, usando seminários parra disseminar o conhecimento de cinema com assuntos recentes.
Uma das dificuldades mais problemáticas para Luiz Faria era a disponibilização do espaço da instituição para a exibição dos filmes e a falta de tempo livre dos membros do grupo e do próprio público. De acordo com Emerson, um dos problemas que ele via era a não aceitação dos próprios colegas de trabalho que não viam os momentos de exibição como estudo e sim como gasto de tempo que poderia ser utilizado em aulas convencionais. Além do problema de estrutura, a falta de aparelhos e filmes originais, que apesar de terem recebido alguns dvd’s do governo ainda faltam muitos para suprir as necessidades da instituição. Os monitores atuais admitem que houveram falhas durante esse ano com a parte interna do projeto, mas também falam sobre a falta de incentivo institucional.
Apesar de todas as dificuldades, todos que passam pelo projeto se lembram de momento com carinho que ficarão para sempre com eles.
Mariana, que teve uma educação conservadora em casa, em seu segundo ano do ensino médio teve a chance de conhecer e estudar aquilo que ela passou a amar cada vez mais, pois durante o ano de 2016 o projeto funcionava com um curso. “Começar a história do cinema desde a fotografia e terminar desvendando o cinema de várias nacionalidades me surpreendeu bastante.”
Ana Clara produziu um curta-metragem com o tema de surrealismo e se sentiu extremamente desafiada, já que eles pouco sabiam sobre produção cinematográfica. O elogio de professores da área foi o ponto alto do seu tempo no projeto. “Eu precisei estudar além do que era passado em aula para o projeto, não eram somente assuntos relacionados ao cinema, técnicas de filmagem, iluminação e afins, mas também história, geografia, matemática, português. As matérias acadêmicas serviam para a criação de uma história, se eu não estudasse a fundo o tema proposto, não ficaria um trabalho tão legal.”
Luiz Faria contou como foi gratificante todo o aprendizado através da produção de seu curto que foi filmado em uma zona florestal, as amizades que ele fez durante as filmagens ficaram marcadas nele pelo audiovisual. “Foram vários dias de gravação e eu achei isso muito legal por que a gente aprendeu muito sobre atuação, sobre roteiro, trilha sonora”.
Emerson recorda do dia em que uma exibição do filme “Ensaio sobre a cegueira” de Fernando Meireles que deveria ter um tempo de debate de 40 minutos ultrapassou de duas horas. Recorda também de acontecimento parecido, mas dessa vez com o filme da história de Zuzu Angel que, de acordo com ele, foi fundamental para o aprendizado da turma de terceiro ano.
“Como artista, como professor, como humanista que sou, como cidadão eu acredito na força do cinema da mesma forma que eu acredito na força de todas as outras manifestações artísticas, seja pintura, a escultura, a arquitetura, a dança, a música, o teatro, a fotografia, o cinema é uma forma de linguagem e como forma de linguagem é uma forma de se dizer alguma coisa a alguém. Então, aqueles que trabalham com cinema nesses 120 anos que essa arte existe, desde 1895, nós temos aqui uma forma de pensar na sua realidade, pensar no seu mundo, pensar no seu tempo. O cinema produzido na Alemanha nos anos 10 e 20 ou o cinema produzido nos Estados Unidos a partir dos anos 30 e 40 , em especial após a segunda guerra mundial, ou o cinema que foi revitalizado no Brasil nos anos 90 para cá, mostram-nos a realidade dessas diversas sociedades em cada instante. O cinema é uma forma de educação eficaz, eficiente em vários pontos, em vários quesitos. No ponto de vista do roteirista, no ponto de vista do diretor, no ponto de vista do espectador que assiste aquela obra permite-nos aqui nesse instante estabelecer pontos de análise e fruição do conhecimento, isso que torna o cinema tão mágico, tão interessante, tão inebriante como ele é” – Fala Emerson.
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