A Monstruosa Comédia
- UFUPIC
- 5 de dez. de 2018
- 5 min de leitura
05/12/2018 | 22:00
Por - Jackeline Freitas

Foto de Leandro Hassum
A comédia é um dos gêneros mais antigos do mundo, em todas as suas áreas. Com o objetivo de agradar e divertir o público, os filmes eram presentes até no famigerado cinema mudo e duram até os dias atuais com as suas mais variadas formas e variações.
Desde o humor Chapliniano, diretamente vindo de Londres com seu amor escancarado e expressivo, o cinema vem ganhando uma imensa leva de comédias que presenteiam seus desenvolvedores com imensas bilheterias.

Foto de Mazzaropi
No cinema brasileiro, Mazzaropi conquistou esse papel de triunfar dentro da comédia nacional. Nascido em 1912 em São Paulo, o astro caipira surpreendeu ao sair do mundo circense para as grandes telonas onde capturou o amor do público. Apesar de sua morte em 1981, aos 69 anos, o homem deixou uma herança cultura imensurável e uma multidão de fãs que o seguem até hoje – Uma página do facebook que leva o seu nome ultrapassou a marca de 90 mil curtidas.
A comédia nacional já começou a ser utilizada muito antes de ficar aclamada, como no cinema mudo em que espetáculos baseados em peças eram recriados para a sétima arte. Nos anos 50 o nacionalismo tomou conta dos cineastas que aos poucos passaram a abandonar as ideias copiadas do cinema internacional e começaram a acrescentar regionalidade para suas produções – O que hoje nos é muito comum, e às vezes visto como um problema para o crescimento internacional do audiovisual brasileiro.
A visão da comédia como o problema do cinema nacional pode ser vista no comentário feito pelo critico de cinema da Folha de São Paulo Inácio Araujo em 2014 “o cinema brasileiro continua a buscar seu público. E a referência desse público amplo, hoje, é a estética dos programas da Globo ou os blockbusters americanos. Esses últimos não podemos imitar. Então o cinema imita, no que pode, a Globo. São essas comédias idiotas, com atores que se esforçam para imitar atores de teatro colegial, aquela luz esbranquiçada. O público responde bem a isso. Que dizer? Não é o cinema brasileiro que está doente. É o cinema”.

Oscarito e Grande Otelo em Matar ou Correr
O apreço do público Brasileiro pela comédia já pode ser sentido no período onde as Chanchadas se tornaram febre. Com um humor inocente e musical, os filmes se tornam famosos nos anos 30 ganhando o apreço do público.
As chanchadas costumavam se voltar para um enredo carnavalesco, mas aos poucos foi se tornando mais para paródicas e debochadas com a cultura norte americanas, assim como surgiu uma nova vertente: a Pornochanchada. Agradando muito o público adulto a pornochanchada era uma versão mais erotizada da chanchada, como o nome já sugere.
Apesar de a formula ter se perdido após alguns anos de sucesso, o desejo pela comicidade se torna comum ao povo.
“Existe a cultura literária, a cultura cinematográfica, mas existe a cultura do bem-estar. É quando o cara entra no cinema desarmado mentalmente e assiste a um filme superficial, mas agradável, e sai feliz da vida. Quanto vale isso em termos antropológicos?” Questiona Carlos Mossy, astro da Pornochanchada, ao jornal O Globo em 2015, ano em que se comorou o centenário de Grande Otelo e Zé Trindade.

"Carlota Joaquina a Princesa do Brasil"
Após um longo período de ausência, o filme que retoma a atividade nos cinemas é a comédia “Carlota Joaquina, Princesa do Brasil” de Carla Camurati que ousa ao relatar fatos históricos pouco conhecidos ou questionados para construir seu primeiro longa-metragem. (Para saber mais sobre a diretora confira a matéria sobre ela).
Apesar do preconceito do público, que compara as produções brasileiras com as de hollywood, quando o longa é comédia, são raros os que resistem e acabam estourando as bilheterias. Comédias besteirois, inteligentes, adolescentes ou românticas; sempre podem contar com o público, porque esse é um mercado em alta no cinema brasileiro.
Para as fãs Beatriz Toledo e Mariana Carneiro, a comédia brasileira se destaca por ser tão próxima da realidade em que vivemos. As duas concordam ao dizer que os roteiros dos filmes são leves e não exigem de mais do telespectador para eu ele se sinta integrado a história. Beatriz ainda destaca que sente mais dificuldade em entender as piadas dos filmes americanos, já que uma parte de sua essência é perdida na tradução, enquanto, nas palavras dela, “Comédia brasileira é bom porque eu entendo”.

Poster de "Totalmente Inocentes"
“O brasileiro gosta muito de rir do outro – o português é burro, o argentino é idiota. Já o americano é ao contrário. Ele já entendeu que o melhor é rir de si mesmo antes que outra pessoa faça isso. E o brasileiro é um povo tão divertido, adora comédia, lota cinemas e peças desse gênero. Agora ele tá começando a entender que pode, sim, rir dele mesmo.” Fala Fábio Porchat a Globo Filmes em 2012 - ano que estreou nos cinemas interpretando Morro no filme “Totalmente Inocentes”.
Uma das maiores responsáveis pela ascensão da comédia brasileira é a produtora “Globo Filmes” que hoje lança as maiores bilheterias através, na maior parte do tempo, de seus longas de comedia. A produtora já iniciou apostando na comédia inocente de “Os trapalhões” , foi responsável pela criação de filmes como “O Auto da Compadecida”, “Lisbela e o Prisioneiro”, “Meu tio matou um cara”, “Se eu fosse você”, “Ó paí, Ó”, “De pernas pro ar”, “Até que a sorte nos separe”, “Minha mãe é uma peça”, e suas sequências. A empresa criou o que muitos vêm como monopólio do cinema brasileiro, em especial o cômico.
Apesar da desvalorização que vem da própria critica brasileira, o público busca consumir comédia o tempo todo. Na televisão brasileira os programas de comédia atrai a maior parte da audiência das emissoras, a busca por series e filmes de comédia online são visíveis ao entrar no perfil da maior parte dos adolescente brasileiros, que, apesar de gostarem de um bom drama, ainda preferem fugir da realidade com um bom humor.

Imagem de um dos quadros do canal "Castro Brothers"
O que deixa mais claro a busca pelo humor é acompanhar o crescimento de empresas e pessoas dentro do Youtube Brasil. Canais que sempre foram sobre esquetes humorísticas ou paródias são muito cobrados pelos inscritos, enquanto os youtubers grandes têm de manter sempre o bom humor e ter boas piadas a disposição para agradar os fãs – Mesmo quando as piadas são consideradas ruins. Até mesmo canais que buscam passar algum tipo de ensino escolar, concebem o conteúdo de forma humorada e divertida, procurando envolver seus seguidores.
Os próprios provérbios brasileiros sugerem essa necessidade de rir da sociedade: É rir para não chorar, Rir é o melhor remédio, rir com um olho e chorar com o outro. Viver em momentos tão difíceis e pesados faz com que filmes mais dramáticos sejam visto como “De trágico já basta nossa vida”.
Do grande Otelo até Paulo Gustavo, todas as formas de humor no Brasil são aceitas – Até o mais pesado, como mostra Danilo Gentili com seu grande conjunto de seguidores e admiradores. O aspecto negativo desse desejo cúmplice do povo pelo humor, o Brasil tem suas grandes produções de comédias extremamente concentradas em um núcleo, o que deixa de lado as pequenas produções que poderiam ser aclamadas se tivessem espaço na grande mídia. Além dos outros gêneros que acabam se afogando, no meio de tanta ânsia pela comédia, e sendo esquecidos – Mesmo as obras mais emblemáticas.
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